quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Companheiro, amigo.... relacionamento...


Acreditar que o outro estará sempre lá pra você, é uma das ilusões mais antigas nas quais fingimos acreditar. Assinamos contratos, compramos alianças, damos nomes à relação – ficar, namorar, noivar, casar. Tudo numa tentativa em vão de nos amarrarmos ao outro. Queremos estar no controle. Mas afinal, como nos amarrarmos a algo que não existe?

No início, veio a paixão e – de um dia pro outro – temos a sensação que não conseguimos mais viver sem aquela pessoa que, até alguns dias atrás, não existia no nosso universo. Perdemos a concentração, ficamos bobos, falamos coisas idiotas, nos arrependemos. Queremos estar mais bonitos, mais atraentes, mais interessantes. Queremos aquela pessoa pra gente.

Se a paixão persiste, começa-se um relacionamento “oficial”. Desejamos estar do lado da pessoa pra sempre, queremos caminhar juntos, nos visualizamos em todas as situações mais adversas – mas nada parece tão grave, se vocês estiverem unidos. Os dois descobrem o prazer da jornada acompanhada. Alinham gostos, compartilham universos – tudo para fortalecer ainda mais o nó invisível que os une.

Uma vez ouvi, o que acredito ser a melhor metáfora sobre relacionamentos até hoje. Apresento-a:

A vida, é como uma viagem num barquinho. Nascemos em nosso barquinho e passamos a vida navegando, cruzando com pessoas, desviando de outras. Até que, certo dia, você vê alguém em um outro barquinho que te faz querer parar. E aí, você entende, que sua jornada vai ser muito mais feliz se navegarem juntos. Porém, cada barquinho é individual e intransferível – se os dois subirem em um barquinho só, este irá afundar e outro vai ficar sem rumo e provavelmente vai acabar naufragando também. Então vocês decidem que a melhor forma de seguirem juntos, é de mãos dadas – um segura na mão do outro, com força, dispostos a se manterem juntos, não importa o tamanho das ondas que irão enfrentar ou os perigos do mar que são forças constantes querendo separar o laço. Cena bonita de se ver.

E esse laço, funciona por um tempo, às vezes até pra vida toda. Quanto mais tempo juntos, mais adversidades e perigos terão que enfrentar para continuarem unidos. Acontece que, certo dia, uma tempestade chega. No outro, alguém que te encanta passa no barquinho ao lado. Depois, vem um peixe gigante querendo derrubar o barco. Ou, até mais simples – vocês decidem que querem seguir em direções opostas: você quer ir para o norte, ele para o sul.

Mas e todas as promessas de continuarem juntos, haja o que houver? Bem, elas eram verdadeiras. De coração. Mas a maré muda diariamente e você não consegue fingir que não percebe a força que os puxa para direções opostas. E você se sente mal – queria continuar de mãos dadas. Mas a soma de outras coisas pequenas, está cada dia se tornando mais forte. E, de repente, vem uma onda, daquelas que ninguém espera muito e vocês soltam as mãos.

E assim, relacionamentos acabam, mesmo que vocês queiram continuar. E a solidão dói, então vocês lutam, remam e podem até conseguir dar as mãos de novo. Mas, lá no final do horizonte, tem mais ondas se formando. E elas não param para vocês serem felizes. E você, subtamente percebe, que nada daquilo foi concreto – tudo o que viviam, falavam, planejavam, era estranhamente abstrato e assustadoramente frágil.

Caminhar junto é sempre recompensador. Desde que nascemos, precisamos de alguém para preenchermos aquele vazio interno que existe em todos nós. Somos feitos para vivermos em grupo. É muito difícil sobreviver sozinho. Depois que os pais não conseguem mais preencher esse vazio sozinhos, procuramos alguém que o faça. E a sensação de preenchimento é boa, é gostosa, é confortável, é aconchegante. Por isso, lutamos tanto para termos alguém do lado.

E é por isso também, que nos forçamos acreditar nesse laço invisível que nos une. Não conseguimos bancar o fato de que somos livres, de que ninguém segura ninguém, de que ninguém está pronto para segurar e ser segurado. Esperamos que alguém nos salve. Ficamos profundamente ofendidos quando alguém nos fala que quer abandonar a caminhada em parceria. Mas esquecemos de pensar que, poderia ter sido você quem decidiu abandonar o posto – todos estamos sujeitos a querermos mudar de trilha na vida.

Então quer dizer que nada é eterno? Acredito que não. Mas também nunca vivi uma enternidade pra descobrir. Mas se pensarmos nas estatíticas, quantas pessoas você conhece que se relacionam por muitos e muitos anos? Quantas dessas estão felizes? Quantas dessas estão juntas por conveniência?

Mesmo com os números não muito animadores, é provado que dá pra ter uma caminhada feliz de mãos dadas. Assim que entendemos de vez, que a eternidade é muito subjetiva e que jamais poderemos nos amarrar a alguém, os relacionamentos passam a ter outro brilho – cuidamos mais, admiramos mais, observamos mais, nos conectamos mais. Quando reconhecemos que todo mundo têm livre arbítrio para ir embora a qualquer momento, aí sim, passamos a viver intensamente o relacionamento, como se cada beijo, cada toque, cada conversa, fosse a última.

A vida é um fluxo contínuo – nada é estático, nada é permanente. E o amor, é como uma flor delicada, que não pode ser forçada a ser permanente. Você pode ter flores de plástico – que é o que muitas pessoas têm: casamento, família, trabalho, tudo de plástico. O plástico é permamente, mas o amor de verdade é uma incerteza, assim como a vida. E, admitir que as pessoas mudam e permitir que elas sigam o caminho que manda o coração, isso sim, é a maior prova de amor que você poderia dar a alguém. Vinícius mesmo, já sabia de tudo isso quando disse: “Que não seja imortal, posto que é chama,mas que seja infinito enquanto dure.”

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Pequenininha

Pequenininha
para vcs poderem me conhecer mais um pouco adoro